sábado, 28 de maio de 2011

“Mas que coisa é homem?”

          “Mas que coisa é homem?”



            Tentar definir o homem não é uma tarefa fácil, pois há várias abordagens que podem ser utilizadas como critérios para responder esta pergunta, ou seja, não é possível tratar do homem apenas como um ser natural, porque ele é produto histórico, nem pode ser estudado como ser isolado, pois se torna”quem é” em função de ser social, nem como ser abstrato, porque o homem é o conjunto de suas relações sociais.
            Tentando responder quem é o homem, Carlos Drummond de Andrade escreveu  a poesia “Especulações em torno da palavra homem” que aqui terá alguns versos interpretados sob à luz da psicologia.


 Mas que coisa é homem,
 que há sob o nome:
 uma geografia?
 

Observa-se no verso que Drummond faz uma relação entre o quem é o homem e o ambiente em que ele vive, reconhecendo que há uma influência do meio sobre quem ele é, ou seja, por trás de quem somos ”há uma geografia”. Vivemos em um mundo em que as fronteiras (demarcações territoriais e geográficas), de certa forma, determinam quem somos, a cultura predominante em um lugar, contribui para a formação de quem é o homem que ali vive. Se por exemplo observarmos o comportamento dos brasileiros ao aplaudir um show e japoneses na mesma situação, observaremos uma grande diferença entre o comportamento dos brasileiros, alegres e extrovertidos e os japoneses bastante contidos. Isto pôde ser percebido pelos componentes do Cirque du Soleil (brasileiro) que ao se apresentarem no Japão se sentiam desmotivados pela ausência de aplausos, tendo que passar por preparos psicológicos antes das apresentações, que os levavam a perceber que a falta de aplausos não era indício de reprovação dos japoneses, mas sim uma característica da cultura local.


Como pode o homem
sentir-se a si mesmo,
quando o mundo some?

Diferente de todos os outros seres, o homem percebe o mundo de forma consciente, essa percepção faz com que ele reflita o mundo objetivo o que o possibilita constituir o que lhe é subjetivo, criando assim ”seu mundo interno.  

Como vai o homem
junto de outro homem,
sem perder o nome?

Neste verso o poeta procura caracterizar o homem como um ser social, que através do convívio pode absorver ou até transmitir traços a outros homens. Um exemplo é uma criança que ao ser introduzida no mundo da cultura por outros indivíduos irá adquirir características que farão parte de sua personalidade.

Apenas deitar,
copular, à espera
de que do abdômen

Aqui o homem é tido como um animal, deita, copula, reproduz... No entanto na mesma poesia o homem já foi tratado como ser consciente, o que o diferencia de todos os outros seres vivos, o que não o exclui da condição de animal.

Há alma no homem?
E quem pôs na alma
algo que a destrói?

No verso observa-se uma crítica de Drummond ao tratar da alma humana. “Há alma no homem?” a frase caracteriza a falta de bondade do ser humano, além disso “quem pôs na alma algo que a destrói?”, ou seja, quem é responsável pelo envenenamento da  alma?.aqui o pensamento de Drummond coincidiu com um dos mitos de Bleger que trata o homem como um ser natural que nasce bom, mas a sociedade o influenciaria,fazendo com que o homem perca ou modifique essa qualidade.


           
Referências bibliográficas:

 BAHIA Mercês, FURTADO Odair, TEIXEIRA Maria de Lourdes Trassi, Psicologias:uma introdução ao estudo da psicologia-13.ed.refor. e ampl.-São Paulo: Saraiva, 2002.cap.11


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