sábado, 28 de maio de 2011

COMPORTAMENTO E ESPIRITISMO

COMPORTAMENTO E ESPIRITISMO


 O que exatamente é comportamento? Tem sentido popular e tem conceituação científica?

        Em sentido comum, comportamento é tudo o que um organismo faz, seja ele humano ou não. Essa conceituação não corresponde totalmente a noção científica de comportamento.Popularmente, o termo comportamento tem sido usado com o mesmo sentido de conduta e atitude. No entanto, na ciência psicológica e neurológica eles não se confundem. A conceituação científica depende muito da área de conhecimento. Na Biologia, a noção sobre o comportamento se reduz ao movimento e às estruturas. Também na Psicologia a idéia de movimento está presente, incluindo-se, na definição o termo interação. Nesse sentido pode-se dizer, especialmente para a Psicologia comportamental, em sua vertente denominada de Behaviorismo radical, que comportamento é movimento produzido por um organismo em interação com o ambiente. Essa definição é aparentemente simples, pois quando falamos em interação, necessariamente temos que fazer referência às condições em que o comportamento ocorre. Logo, a noção de movimento, ainda que correta, não se refere a um movimento qualquer, nem para os organismos simples, como por exemplo, uma ameba, nem para aqueles mais complexos, como o homem. Isto porque na filogênese do organismo, o movimento com que interagiu com o ambiente foi selecionado ao longo da evolução pelas conseqüências que produziu. No caso da ameba, os movimentos que a fortaleceram para a sobrevivência foram mantidos e aprimorados. Na espécie humana ocorreu à mesma coisa, todavia, ela por ser mais complexa possuía também repertório mais ampliado e elaborado tendo, por exemplo, o repertório cultural. O estudo do comportamento é tarefa que requer esforço e dedicação e é de interesse de todos nós, pois todos nos envolvemos com  comportamentos humanos.

 Qual é a origem do comportamento, por exemplo, para o espiritismo, para a psicanálise, para o behaviorismo?

        Se pensarmos no indivíduo encarnado, para o Espiritismo o ser inteligente é o espírito, mas sua ação no mundo é mediada pelo corpo. Diferentemente de outras doutrinas como, por exemplo, católica, protestante, muçulmana, a doutrina espírita não estabelece uma oposição corpo-espírito no sentido negativo, mas tem uma visão positiva do corpo e recomenda (Evangelho Segundo Espiritismo, Cap. XVII, Sede perfeitos) que cuidemos do corpo e do espírito. Por outro lado, semelhantemente, com as visões da Biologia Evolucionária e também das escolas da Psicanálise e do Behaviorismo o comportamento é sinônimo de movimento, que é predicado da vida (O Livro dos Espíritos, questões 60 até 67). Na Psicanálise, a origem do comportamento é o corpo, organizado em órgãos e a mente. Os comportamentos são, em última instância, próprios à espécie e, por conseguinte dependem do organismo. Porém, também se diferenciam porque cada indivíduo possui mente única ou, mais especificamente, a personalidade. A personalidade é força dinâmica, responsável pela maneira individual como cada um se interage no ambiente. Embora as funções da personalidade sejam as mesmas para todos os indivíduos humanos, ela se expressa com particularidades que se relacionam com as experiências únicas de cada ser. O Behaviorismo radical não descarta sentimentos e pensamentos, entende-os também mas como comportamentos encobertos que também são aprendidos e podem ser alterados.

No espiritismo, é importante a intenção que antecede o comportamento. Por quê? (essa intenção também é comportamento?)

        Na Psicologia Behaviorista, a intenção, ou o pensar sobre como se comportar, é entendida como comportamento, mesmo que a pessoa não a revele. Para Jesus, a intenção de fazer o mal já é pecado, ou seja, mostra que a pessoa está em desarmonia em relação à prática do bem. O Espiritismo também valoriza bastante o pensamento, mostrando que por meio dele nos colocamos em contato com outras pessoas, desencarnadas e encarnadas. Se pensarmos sobre o bem, surgem probabilidades de fazermos o bem. O contrário também é verdadeiro, por isso Jesus alertava com a máxima "Orai e vigiai" o próprio comportamento, com certeza.

 Existe comportamento não aprendido, esse comportamento não aprendido, para o espiritismo e a psicanálise, por exemplo, é sempre a mesma coisa?

        O comportamento não-aprendido, ou inato, é mais comum em algumas espécies animais como, por exemplo, as toupeiras que, mesmo quando criadas isoladas de outras eimpossibilitadas de cavar, se colocadas na terra, após breves segundos começam a cavar como se sempre tivessem feito isso. O homem faz uso de reduzido repertório de respostas inatas como, por exemplo, a sucção. Claro que algumas pessoas possuem uma espécie de "pendor" para dominar certas áreas de conhecimento com maior facilidade. Porém, isso apenas significa que, em outras encarnações, elas aprenderam, ou seja, essa tendência foi conquistada, não há dons gratuitos para ninguém. Pode-se dizer que toda facilidade para aprender no presente é fruto do esforço e dificuldade que a pessoa enfrentou e venceu no passado. Na Psicanálise é dada maior importância aos possíveis fatores internos causais do comportamento, do que propriamente para o comportamento.

Podemos dizer que o inconsciente de Freud é o mesmo inconsciente mencionado pelo Espiritismo quando fala do esquecimento do passado?

        Nesse aspecto, Freud se aproxima da noção espírita como, também, Jung com o conceito de inconsciente coletivo. No entanto, há diferenças. O inconsciente freudiano é componente fundamental da psique (domínio não orgânico) do indivíduo. Na doutrina espírita, o esquecimento de todas as experiências de outras vidas é parte importante do processo evolutivo. Não lembrar ou esquecer para aprender é paradoxo apenas aparente. Em uma existência, pode-se pensar em pelo menos três condições mais comuns. Na primeira, a pessoa passa por novas situações, onde pode transferir aprendizagens já realizadas e/ou ampliar suas aprendizagens atuais. Na segunda, ela repete algumas experiências já vividas para aprender a reagir a elas de maneira diferente daquela que vinha fazendo. Na terceira, repete algumas experiências, mesmo bem sucedidas, para fortalecer as aprendizagens anteriores. Há uma passagem no Evangelho Segundo o Espiritismo (Cap.V - Esquecimento do passado), bastante elucidativa quanto a essa segunda condição, aqui exposta: "Frequentemente, o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito".

Como a educação científica e a educação moral interferem no comportamento?

        Para a Psicologia, a pessoa se comporta de uma maneira ou outra porque: (a) viu alguém se comportar; (b) seu comportamento foi moldado gradualmente por conseqüências positivas; (c) está seguindo regras já estabelecidas. O que chamamos de educação moral diz respeito às regras, ou mais precisamente, ao comportamento governado por regras. Nas regras, entram todos os códigos de moral, as exortações, as parábolas, os ensinos religiosos ou filosóficos, provérbios, mandamentos, apólogos etc. O que se sabe é que se não existe conseqüência imediata para algum comportamento, torna-se mais difícil seguir uma regra. Por exemplo, o código de Hamurabi, propunha a regra: Olho por olho, dente por dente. Esse código foi teoricamente abolido em todas as grandes civilizações, propondo-se sua substituição pelo que ficou conhecido como Lei Áurea, anunciada por Jesus mais ou menos nos termos "Fazer ao outro o que gostaria que ele lhe fizesse". Não obstante o grande esforço, boa parte da humanidade ainda se comporta segundo o código anterior porque a conseqüência sobre o erro cometido é bastante imediata. Ainda que países e pessoas tenham mais facilidade do que outros para se comportar segundo regras estabelecidas, o conhecimento, seja qual for sua natureza, auxilia tanto na compreensão como no cumprimento dessas regras. Os chamados dez mandamentos que foram aceitos por Jesus formam pequeno grupo de regras, algumas enunciadas com função negativa (não matarás), outras na função positiva (honrai pai e mãe) que são importantes para serem seguidas. No entanto, várias dessas regras precisam ser explicitadas. Se o "não matarás" é absolutamente claro, o mesmo não se pode dizer sobre o "honrai pai e mãe". O que exatamente deve ser feito? Em outras palavras quais os comportamentos esperados dos filhos em relação aos pais? Jesus apontou a possibilidade de aprimorar regras, de buscar seu sentido, de refletir sobre elas dizendo, em várias situações, ouvistes o que foi dito aos antigos, porém eu vos digo...

Por que na civilização humana há essa divisão entre aprendizagem das ciências e dos comportamentos morais?

        No caso específico da Psicologia, enquanto ciência, pode-se dizer que foi saída estratégica em momento histórico em que o peso da religião impedia o livre pensar e estabelecia controle profundo da ciência e de assuntos morais ou religiosos. Estes deveriam ser aceitos unicamente via revelação e fé. Essa divisão está sendo cada vez mais questionada na medida em que a Ciência vem reconhecendo e abordando questões que eram antes de âmbito estritamente religioso e, por outro lado, na religião, no caso o Espiritismo, há reconhecimento da importância da crença raciocinada.

Por que, segundo o espiritismo, o aprendizado da ciência é o que leva necessariamente ao aprimoramento do comportamento moral?

        Por que o comportamento moral deve ter bases sólidas, científicas, é não somente de fé, no sentido de crença não raciocinada...

Fazer boas ações, estar sempre em companhia de bons espíritos, não se torna o suficiente para esse aprimoramento do comportamento moral?

        Em meu entendimento, mesmo que inicialmente a pessoa faça o bem sem muita convicção, essa prática e a experiência reflexiva vão operando a sua transformação. Por isso Jesus insistia, dizendo "vai tu e faze o mesmo". Nesse ponto é importante chamar a atenção para aquilo que chamamos de prática reflexiva, pois o exercício prático sem reflexão leva à ritualização. Fazer o bem, como ritual de vida moral, esvaziado de entendimento, não leva a transformação. É preciso, tanto quanto possível, se estar consciente sobre as próprias ações. Esse estar consciente não é mera retórica, mas envolve observar, sentir e entender que existem situações antecedentes de nossas ações e situações conseqüentes. Grande parte dos antecedentes e conseqüentes é imediata, ou seja, exerce controle sobre nosso comportamento.

ALMIR DEL PRETTE, revisão José Fernando Costa Vital
 Disponível em: <http://www.chicoxavierbrasil.com/almirdelprette.html> 

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